quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Delirium Tremens- Huyghe Brouwerij

Ontem no fim da tarde ainda não havia decidido sobre qual cerveja, cervejaria ou tema escrever para o post de hoje. Mas, ontem tivemos uma pequena confraternização no departamento para um colega que está se aposentando. E foi lá que decidi escrever sobre esta cerveja. Na verdade, ela não estava disponível, mas como todos me conhecem muito bem por aqui e sabem das cervejas que gosto, a nossa secretária comprou algumas Delirium especialmente para mim! Foi uma boa surpresa. Quem não quer ter uma secretária dessas heim! Obrigado Birgit!
O nome desta cerveja já é uma grande sacada. Para os que não sabem, O Delirium Tremens é uma psicose causada pela abstinência ou suspensão do uso de drogas ou medicamentos freqüentemente associada ao alcoolismo. Assim, é uma forma mais intensa e complicada da abstinência. Delirium é um diagnóstico inespecífico em psiquiatria que designa estado de confusão mental: a pessoa não sabe onde está, em que dia está, não consegue prestar atenção em nada, tem um comportamento desorganizado, sua fala é desorganizada ou ininteligível, a noite pode ficar mais agitado do que de dia. Como dentro do estado de delirium da abstinência alcoólica são comuns os tremores intensos ou mesmo convulsão, o nome ficou como Delirium Tremens.
Resumidamente, o Delirium Tremens é como um estado extremo de embriaguez com ilusões dos sentidos e agitação motora até a fúria provocada pelo abuso de álcool. Um traço comum no delírio tremens, mas nem sempre presente são as alucinações tácteis e visuais em que o paciente "vê" insectos ou animais asquerosos próximos ou pelo seu corpo. Esse tipo de alucinação pode levar o paciente a um estado de agitação violenta para tentar livrar-se dos animais que o atacam. Por isso o símbolo da cervejaria é um elefante cor de rosa, dizem que se você tomar muitas Delirium, você passa a ver esses elefantes flutuando por ai.
Este nome foi até considerado inaceitável nos Estados Unidos, onde a cerveja era vendida pelo nome de Mateen. A inovação do nome pode por em xeque a primeira venda, mas o sucesso nas exportações sugerem que o consumidor volta para mais.
Delirium Tremens é uma cerveja muito clara, apesar de ser condicionada em garrafa. Tem uma nota inicial clara, densa, um “bouquet” muito frutado, um paladar adocicado e, claro, muito alcool, cerca de 9%. Os lúpulos usados incluem não somente o Saaz mas também Styrians e a fermentação utiliza 3 culturas diferentes de levedura. Estes tipos são empregados em dois estágiso de fermentação primária e no condicionamento na garrafa.
A delirium é o principal produto da cervejaria Huyghe, em Melle, próximo a Ghent. A cervejaria iniciou em 1906 e a cerveja delirium começou a ser feita em 1989 a pedido de italianos.
O rótulo, principalmente combinado com a garrafa que imita cerâmica, faz parecer que é uma bebida para crianças, cheia de animais e elefantes rosa, porém tudo isso é feito em referências aos diferentes estágios do Delirium Tremens.
E antes que me perguntem, não, ontem eu não voltei para casa enxergando elefantes rosa. Compartilhei as 6 delirium com meus colegas! Gezondheid!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Stella Artois – AB InBev

Conforme postei ontem, hoje vou escrever sobre uma das, se não a, cerveja belga mais conhecida no Brasil. Então, vamos começar pela história desta cerveja, e a primeira pergunta é: Porque o nome Stella? É o nome da esposa ou da filha do cervejeiro? Não!
Stella foi escolhido com o sentido original da palavra estrela em latim. Este nome veio em homenagem a estrela de Belém, que para aqueles não católicos ou que faltaram as aulas da catequese, é a estrelha descrita no Evangelho segundo Mateus que anunciou o nacimento de Jesus e guiou os Três Reis Magos até o local onde ele se encontrava. E isso tem tudo a ver com o lançamento da cerveja, que no inicio foi uma cerveja especial de Natal. Parece ser uma escolha estranha, uma cerveja dourada no natal, já que por muitos anos as cervejas de Natal foram escuras. Voltamos então a 1926. Nesta época, a maior parte das cervejas eram escuras, não importava a época do ano. Contra este histórico, esta cerveja dourada devia realmente brilhar como uma estrela.
Apesar de ser uma cerveja sazonal, ela foi claramente modelada de acordo com uma Pilsener tcheca. A cerveja evoluiu, ficou com um corpo mais leve e um sabor mais suave com o passar dos anos, mas continua com o caráter do lúpulo Saaz: floral, herbal e temperado, especialmente no aroma.
Tornou-se a cerveja mais vendida na Bélgica, então firmou posição na fronteira da França, cruzou o canal da Mancha para o Reino Unido e hoje é internacional pela InBev.
A história da cervejaria também é interessante. Ela fica na capital belga da cerveja. Existia cerveja em Leuven (ou Louvain, para os francófonos) antes mesmo dos estudantes, apesar dos dois serem praticamente inseparáveis.
Um bar de cerveja chamado de “The Hunting Horn” esta nos registros como datando de 1366. Em 1425 a universidade foi fundada, para acolher pessoas como Mercator (aquele da projeção de alguns mapas), Erasmus e gerações de estudantes cervejeiros. É a universidade católica mais antiga do mundo. Um século após a fundação, a cidade contava com 42 cervejarias.
Sebastien Artois (olha o nome ai!) era um aprendiz no “The Hunting Horn” e o nome sugere que sua familia é originária da região de Artois, no norte da França. Ele graduou-se mestre em brassagem em 1708. Menos de 10 anos depois ele já havia contruido o seu negócio.
Artois ficou com a familia por mais de 100 anos, transformou-se na maior cervejaria belga e comprou não somente competidores locais como também holandeses e franceses, antes de se fundir com o rival local Piedboeuf, produtor da cerveja Jupiler.
Hoje Leuven é a capital do Brabante Flamengo, embora esteja na fronteira com a Valônia. Portestos ocorreram na cidade nos anos 1950 e 60 por questões linguisticas resultando na organização não só de uma universidade francófona, mas de uma nova cidade, Louvain La Neuve, perto de Bruxelas.
Fiz questão de colocar a foto da Stella vendida aqui, de garrafa escura, diferente da verde utilizada no Brasil. Só tomei esta cerveja no Brasil uma vez, quando estive por lá de férias. Posso dizer que não tem nada a ver com a Stella vendida aqui. O nome pode ter ficado internacional, mas a cerveja, tenho minhas dúvidas!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Pils, a receita mais popular do mundo!

Antes de escrever sobre uma cerveja específica, gosto muito de fazer uma pequena introdução sobre o seu tipo. E não vai ser diferente com a cervejas Pilsen. A primeira idéia era escrever sobre a cerveja belga, que imagino, que seja a mais conhecida no Brasil, a Stella Artois. Mas este post fica para amanhã, agora vamos falar das cervejas Pils em geral.
Grandes países produtores tem clima frio, senão não teriam cevada. Mas também todos são muito quentes para permitir uma fermentação limpa no verão. Quando o clima quente tornou a brassagem impossível, o pessoal da Bavária teve a vantagem de utilizar “caves” nos alpes, nas quais eles aprovisionavam as cervejas para os meses quentes de verão. Eles então aprenderam que baixas temperaturas não somente permitia uma fermentação correta e uma boa preservação, como também tornava o caráter mais estável.
A fermentação com fermento lager produz notas menos frutadas e temperadas, consequentemente deixam um malte “limpo” com um caráter de lúpulo.
Lager é a palavra alemã para armazém. Ela se refere ao armazenamento ou maturação fria da cerveja. As primeiras lagers eram escuras, chamadas de estilo Munique. Foram seguidas pelo estilo Viena, de cor cobre. Então veio o estilo dourado, da cidade de Pilsen, na Boêmia, cidade, na época, pertencente ao império autriaco, hoje República Tcheca.
De todos os estilos de lager, o Pilsener, Pilser ou Pils foi o mais adotado e adaptado por diferentes nações.
A cerveja feita em Pilsen era muito boa graças a docura da cevada na Morávia e o extraordinário lúpulo Saaz da Boêmia.
Fora da República Tcheca, a melhor interpretação do estilo Pilsener é em geral os feitos na Alemanha, seguido pelos estilos mais leves e com ligeiramente menos lúpulo da Bélgica.
As clássicas Pilseners são feitas puramente de malte de cevada, mas algumas marcas internacionais bem conhecidas utilizam entre 10% e 40% de arroz ou milho, ou seja, é quase um bolo de fubá!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Duvel – Duvel Moortgat Brouwerij

Para os francófonos, pronuncia-se “DooVELL”. Chamar Duvel assim é um erro perigoso. Especialmente porque esconde um pouco do que a cerveja realmente é. O nome é flamengo e é uma modificação da palavra “Diabo”, "Duivel". Então, se você não conhece, tome cuidado, você não imagina o que Duvel realmente é!
Ela não é uma daquelas “super premium” lagers, com pouco malte, lúpulo e ligeiramente fortes que se faz diariamente . Também não é uma daquelas extra-fortes largers feitas em países nórdicos com mais costa do que terra, onde a população passa a vida em ferries nas águas territoriais tomando cerveja que não foram maturadas o suficiente e portando ficam mais adocicadas.
Duvel não é nada disso. Duvel não é uma lager, apesar de ser feita com malte pilsener. Se você pensa que as loiras são fracas em alcool e as escuras fortes, deve tomar cuidado. Duvel parece uma loira e se apresenta de uma forma que enaltece suas curvas. O maior feitiço não é somente o teor de 8,5%, mas o fato de ocultar isso muito bem. É servida em seu copo com uma forma “burguesa”, com sua nota inicial, sem falar do aroma, sabor e sua nota final, não podendo ser confundida com uma pils, apesar de algumas vezes ser.
É tão especial que inspirou um número suficiente de outras cervejas para um estilo. É uma Golden Ale, uma Golden Ale bem forte.
Seu malte é denso o suficiente para prover um corpo forte enfraquecido pelo açúcar. Do seu corpo, limpo e leve, os aromas de lúpulo e sabores como de casca de laranja aparecem. Há sabores do fermento, também frutados, mas frescos e “limpos”.
Duvel tem uma história interessante. No tempo da fama das cervejas Ales escocesas na Bélgica, entre as duas guerras mundiais, uma garrafa de McEwans foi “separada”em um microscópio por um grande cientísta estudioso da cervejas chamado Jean DeClerk. E ele fez um verdadeiro trabalho de cientista, estudando, pesquisando, investigando.
Talvez ele estivesse interessado nas características do sabor, que pareciam vir do fermento, pereciam uma mistura entre 10 ou 20 tipos diferentes.
DeClerk realizou este trabalho em conjunto com uma cervejaria local, da familia Moortgat. Nesse tempo, Moortgat tinha uma cerveja escura de alta fermentação. Com as culturas de fermento isoladas da cerveja McEwans eles iniciaram um novo produto. Após a segunda guerra, as cervejas loiras cairam no gosto da população na Bélgica.
Em 1970, a cerveja escura foi substituida por uma loira, novamente DeClerk estava envolvido. Mesmo com um malte estilo pilsener é difícil produzir uma Ale forte e dourada. O problema é que a densidade do malte necessária para fazer uma brassagem forte inevitavelmente muda a cor, tendendo a um bronze.
Porque então fazer uma cerveja mais pálida, clara? Em parte por motivos estéticos. Eles queriam responder a moda das cervejas claras. E por fazer com um malte de uma cor clara, não comum, eles também cheram a um corpo mais limpo.
É dito que um dos cervejeiros da empresa, após provar uma amostra disse: “Este é o diabo das cervejas” e espontâneamente deu a Moortgat o nome para a cerveja.
No Brasil está cada vez mais fácil de se encontrar uma Duvel. O problema é o preço que gira em torno de R$40,00 a garrafa pequena. Gezondheid!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Cervejas de Frutas

Uma bebida fermentada inteiramente de frutas é um vinho. Uma bebida fermentada inteiramente de grãos é uma cerveja. E se o grão é a base e fruta é adicionada mais tarde temos também uma cerveja.
Acredita-se, mas sem provas, que antigos cervejeiros egipcios usaram laranja para dar sabor. Os sumérios, onde é hoje o Iraque, usaram tâmaras. Escavações na Turquia sugerem que uma bebida feita com grãos e uva foi consumida no funeral de Midas, rei da Frígia (o personagem da mitologia grega, que transforma tudo que toca em ouro foi baseado neste rei).
A lei alemã da pureza da cerveja exclui a adição de frutas, mas no “jardins da cerveja” tipicamente lançam uma cerveja com xarope de framboesa.
Cerejas e framboesas são as duas frutas tradicionalmente utilizadas em cervejas belgas. As cerejas crscem em muitas regiões produtoras de cerveja, como Bohemia, Bavária, Dinamarca, Inglaterra e as framboesas ainda mais ao norte. A cerveja sem sobra de dúvidas é a fruta mais utilizada, porém nem o termo flamengo kers nem o francês cerise são utilizados para identificar. A fruta é normalmente conhecida pelo nome flamengo Kriek e muito ocasionalmente por Griotte, o termo francês.
Esta cereja é da familia Prunus cerasus, é quase preta e produz um suco de cor forte com sabor azedo ou ácido. Esta familia e a Prunus avium são antecessoras de todas as variedades cultivadas.
As árvores de cereja ainda podem ser encontradas na região central de Bruxelas e ao redor da cidade, especialmente na região de Schaarbeek.
Para a framboesas, o termo francês Framboise é utilizado. Uma autêntica Kriek ou Framboise com sabor mais seco é a resposta ao Kir como aperitivo.
Como as cerejas são locais em Bruxelas, elas aparecem como uma alternativa lógica de adição ao estilo local de cerveja, a Lambic, que merece um post especial, pois o processo de fabricação é realmente especial. O estilo é então denominado Kriek Lambic.
O jeito tradicional é feito com Lambic feita da forma antiga e cerejas mais “azedas” são utilizadas. A cerveja precisa ficar no mínimo 4 meses com a fruta e mais 6 meses de maturação na garrafa. Nenhum adoçante artificial é permitido.
Após a colheita, geralmente em julho, as cerejas são adicionadas a cerveja no barril. A Lambic precisa ter no mínimo 3 meses ou mais tradicionalmente 18 meses. Os sabores emergem a partir do 6º mês, mas podem ficar por muito mais tempo.
Alguns fabricantes indicam no rótulo quando a Lambic foi feita e quando as cerejas foram colhidas. Do ponto de vista da fruta, outubro é um bom mês para engarrafar. Pela atividade do fermento os melhores meses são março, abril ou maio.
Se a Kriek fica longos períodos nos barris, a cerveja fica mais seca e amarga.
Em uma Kriek tradicional a fermentação causada pela mistura e a adição de fruta vão adicionar “força” para a cerveja. Esta “força” pode variar entre ou um pouco mais de 5% a até mais de 7% de teor alcoolico.
É com certeza uma cerveja muito especial, sabor adocicado, com muito sabor da fruta, também muito bom para sobremesas. Outras frutas também são utilizadas, como pêssego e outras frutas vermelhas.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Bièrres Brut

Normalmente o idioma que escrevo o titulo dos posts tem a ver com a região onde a cerveja é produzida. Por isso algumas vezes escrevo Brouwerij para as cervejarias flamengas ou Brasserie para as cervejarias da valônia. Apesar das cervejas Brut serem ambas da região do Flandres, escrevi o titulo em francês em respeito ao processo de fabricação e ao resultado, que lembram muito um produto típicamente francês, o Champagne.
Quando uma nação cria um tipo bom e original de bebida ou comida deve se orgulhar. Este orgulho leva a proteger este produto a partir de uma definição. Whisky e Champagne são bons exemplos.
Existem na Bélgica 2 tipos de cervejas Brut: Deus (muito conhecida no Brasil, vendida por um preço médio de R$199,00) e a Malheur Brut e Malheur Dark Brut. Não há diferença entre as garrafas destas cervejas e garrafas de Champagne. Elas possuem o mesmo formato, mesma cor, ambas fechadas com rolhas amarradas por aquele “arame” que todos conhecemos das garrafas de Champagne. Tudo isso por causa do processo de refermentação na garrafa.
Este é um dos desenvolvimentos mais significativos das cervejas belgas. A refermentação na garrafa pode agir em prol do sabo, mas isso é um jogo. Dominar as técnicas de condicionamento joga um papel fundamental nesse processo.
Isso é função do fermento da cerveja. Se o fermento está em boas condições e na quantidade correta, a segunda fermentação na garrafa adiciona muita complexidade ao sabor. Pode adicionar uma “secura” saborosa, adicionando gostos florais e algumas vezes sugerindo sabores de vinho do porto. Também pode criar dióxido de carbono, mantendo o oxigênio fora, evitando que a cerveja fique “velha”.
Algumas vezes as cervejas são filtradas ou centrifugadas para eliminar o fermento da primeira fermentação e após uma dose correta de fermento fresco é adicionada antes do engarrafamento, e este fermento é o utilizado na fabricação do Champange.
Algumas destas cervejas são envelhecidas em “caves” da região de Champange, sendo lá submetidas a “remuage” e “dégorgement” que é o métodos de Champagne para a remoção do fermento.
Até o momento só degustei a cerveja Deus, chamada de “Brut des Flanders”. Sabor pouco lembra uma cerveja, uma ótima experiência. Santé!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Malheur 10 - Malheur Bieren

A muito tempo atrás esta cervejaria levou o nome de sol ou moinho. Mas atualmente ela reemergiu com um nome um pouco sarcástico: Malheur, que significa Azar.
A cervejaria vem de uma familia de cervejeiros, onde o atual proprietário Emmanuel De Landtsheer é filho de um cervejeiro, sua mãe também é filha de cervejeiros e por consequencia seu irmão também trabalha no ramo. As primeiras cervejas eram de fermentação espontânea, e até hoje os equipamentos para a fabricação deste tipo de cerveja pode ser encontrado por lá.
A cervejaria fechou as portas logo antes da segunda guerra mundial, porém a familia continuou a produzir lúpulo até os anos 70.
Após a morte do pai em 1991, Emmanuel trabalhou para fazer seu sonho virar realidade, e em 1997 reiniciou a fabricação de cerveja.
A primeira cerveja tinha em seu rótulo um número 4, referência ao teor alcoolico do produto, mas segundo o antigo sistema belga de medir os graus. Com certeza na atual classificação, essa cerveja teria no mínimo 5.8, ganhando mais uns pontos na refermentação sendo mais lógico o 6 de hoje. O proprietário fala que 4 é o número que se pode beber sem ficar embriagado.
Deixando o contexto histórico de lado, falamos agora da Malheur 10. Conheci esta cerveja no BeerWeekend deste ano. Foi com certeza a melhor ceveja que degustei no fim de semana. Tanto que fiquei uma semana querendo escrever este post mas estava difícil, pois a cervejaria possui vários tipos especiais e não sabia como classificar a Malheur 10.
Esta cerveja foi lançada no ano do milênio. Os ingredientes são similares, mas com uma gravidade maior, dando maior corpo, mais sutileza, algumas notas mais “picantes” e um longo, leve e saboroso sabor do lúpulo.
Além disso, possui aroma de pêssego, com um sabor de rosas, com traços de casca de laranja e limão.
Ela possui 10 dias de pré fermentação, o mesmo periodo de uma fermentação secundária, 3 ou 4 dias de armazenamento seguido de filtragem para remoção do fermento e na sequência uma dosagem nova de fermento é adicionada seguida com um “priming” de açúcar branco.
Esta cerveja com certeza irá comigo para o Brasil em dezembro. Será uma das 3 cervejas especiais que levarei para uma degustação especial. Gezondheid!

Beer Weekend 2009

Passei rápidamente pelo BeerWeekend 2009, na Grand Place de Bruxelas. Foi com uns bons amigos, e levamos muita sorte. Fomos no último dia e chegamos no exato momento em que se encerravam as vendas das “tampinhas” que você utiliza dentro da feira para trocar pelas cervejas. Portanto 5 minutos de atrazo significariam esperar para o próximo ano! Ao contrário de algumas feiras deste tipo, aqui toda cerveja é servida em seu próprio copo de vidro, por isso a feira é fechada com seguranças nas saidas para evitar do pessoal sair com os copos.
Ficamos cerca de 3 horas por lá, e com o objetivo de tentar novas experiências, provamos 4 tipos de cerveja, um pouco longe dos 290 tipos que estavam disponíveis. Iniciamos com uma Affligem Triple seguida de uma WitKap, Augustijn e Malheur 10. Todas foram surpresas muito boas. Com o tempo vou colocar um post mais específico de cada uma delas. É uma ótima feira, com um bom ambiente, para os que estão pensando em conhecer Bruxelas entre agosto e setembro, vale a pena esperar a primeira semana de setembro para participar desta festa. No proximo ano tem mais! Saúde!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O Santo da Cerveja

Hoje se inicia o “Beer Weekend” em Bruxelas, onde vários eventos acontecerão, inclusive uma feira na Grand Place onde várias cervejarias venderão seus produtos.
Este festival tem uma conotação religiosa, pode parecer estranho, mas há uma forte ligação entre religião e cerveja, principalmente em países católicos romanos, onde todas as cervejarias possuem imagens de santos.
A presença destas imagens reflete a base agrícola do processo de fabricação da cerveja. Se Deus não provê chuva, não há água. Sem sol não há grãos ou lúpulo. E tudo isso em excesso pode acabar com as plantações.
Há vários santos padroeiros dos cervejeiros. Para os tchecos, o santo é o canonizado Rei Wenceslas da Boêmia. Para os alemães é o São Floriano, os franceses optaram pelo St. Arnold de Metz. Devido a proximidade entre fronteiras belga e francesa, há uma confusão entre os santos destes dois países. O padroeiro na Bélgica é St Arnold de Soissons. Ele é o mais popular dos santos “cervejeiros”. Nasceu em 1040 em Tiegem (oeste do Flandres) foi monge na abadia de St Médard em Soissons e mais tarde bispo. Fundou a abadia de Oudenburg entre Ostende e Bruges.
Diz a lenda que durante o tempo de uma peste St Arnold mergulhou seu crucifixo em um barril de cerveja encorajando a população a beber cerveja ao invés de água. Subitamente a peste desapareceu. A água era provavelmente contaminada, enquando que a cerveja, por utilização água fervida na fabricação estava livre dos micro-organismos.
Outra história conta que St. Arnold miraculosamente iniciou a fabricação de cerveja após a destruição da cervejaria da abadia.
O dia de St Arnold é 18 de agosto e é marcado por um pequeno ritual na cervejaria. Em celebração mais pública, as cervejarias prestam homenagem no inicio de setembro, com um serviço religioso na catedral de Bruxelas, fazendo recentemente parte do “Beer Weekend” o fim de semana na cerveja.




quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Tripel Karmeliet - Brouwerij Bosteels


Simplesmente posso descrever como uma ótima cerveja!
A receita original é de 1679 e continua sendo utilizada na sua fabricação. Ela tem origem no antigo Carmelo (isso mesmo, da ordem Carmelita) de Dendermonde, leste do Flandres.
Nesta receita é descrita a fabricação de cerveja utilizando 3 grãos: cevada, trigo e aveia. Todos utilizados na forma crua e maltada, podendo até então ser chamada de uma cerveja com 6 grãos.
O nome “triple”, além de fazer referência a utilização de 3 grãos, também se refere a ela ser uma cerveja de alta fermentação, com uma terceira fermentação na garrafa (quase uma cerveja duplamente tripla), tendo um teor alcoolico de 8%.
A cor é dourada para bronzeada, com uma forte e cremosa nota inicial possuindo grande fineza e complexidade.
As características não derivam somente dos grãos, mas também do lúpulo Styrian, de ervas e do sabor frutado de banana e baunilha, características do fermento da casa.
É servida em um dos copos mais bonitos e elegantes, desenhado por Antoine Boostels e decorado com uma flor-de-lis estilizada.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Westvleteren Blauw – St Sixtusabdij

Após uma pequena introdução sobre as cervejas trapistas, chegou o momento de falar da que com certeza é a mais especial delas. A Westvleteren, da abadia de St Sixtus.
Onde o campo se encontra com marcas da guerra e jardins de lúpulo, a menor das cervejarias trapistas, St Sixtus, persegue a paz em Westvleteren, entre a fronteira francesa e Ieper, na região oeste do Flandres.
A abadia data de 1831 e a fabricação se iniciou 8 anos depois. Não há refinamentos no produto, como por exemplo rótulo nas garrafas. A diferença entre os diferentes tipos de cerveja é a tampa da garrafa, que pode ser verde, azul ou amarela.
Produz somente o suficiente para a sua manutenção, podendo a cerveja somente ser comprada na abadia (pelo menos de maneira oficial).
Segundo informações da abadia, para comprar a cerveja você precisa reservar com antecedência e você só pode comprar aquela que está sendo fabricada no momento em uma quantidade limitada a um pedido por carro por número de telefone. Quando o produto disponível é a com tampa amarela, uma longa fila de carros se forma em frente da abadia. Ela somente é vendida para clientes que se comprometem a não revender e não repassar para terceiros.
Neste post falo sobre a Westvleteren Blauw (blauw significa azul em neerlandês), uma cerveja que possui teor alcoolico de 8%. Ela não é a mais famosa das Westvleteren mas é considerada por muitos a melhor, o “Châteaux Margaux” das cervejas.
Com relação ao sabor, possui uma nota inicial forte, com uma coloração “gourmant”. É frutada e doce com uma pequena sugestão de ameixa e chocolate.
Esta é a única as Westvleteren que ainda não degustei, mas a experiência que tive com a de tampa amarela, considerada a melhor do mundo, me faz acreditar em tudo o que foi descrito.
Em uma reportagem publicada no portal G1 da Globo, mostra que esta cerveja é vendida em um bar de São Paulo por R$179,00, apesar da reportagem falar que a garrafa é de 750ml, com certeza não é, já que a Westvleteren só é vendida em garrafas pequenas.
Tenho uma garrafa desta maravilha comigo, presente de alguém especial, guardada como recomendam os monges, na vertical, no escuro e a uma temperatura amena. Só vou abri-la quando encontrar novamente esta pessoa. Pessoas especiais + cervejas especiais = momentos inesquecíveis.
Recomenda-se guardar entre 12ºC e 16ºC e a não refrigerar para o consumo.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Cervejas Trapistas

As cervejas trapistas com certeza são as cervejas mais especiais que se pode encontrar na Bélgica. Existem somente 6 cervejas trapistas, fabricadas inteiramente dentro dos mosteiros.
Em 1997, os mosteiros trapistas belgas que fabricam cerveja criaram um selo de autenticidade, para deixar claro que eles são as únicas ordens da Bélgica que fabricam cerveja.
Os monges trapistas possuem a administram estas cervejarias, que são: Achel, Chimay, Orval, Rochefort, Westmalle e Westvleteren.
Orval é a única que possui um único tipo de cerveja. Os outros mosteiros fabricam 2 ou 3 tipos diferentes, totalizando algo entre 12 e 20 diferentes cervejas.
Quando ao sabor, algumas são secas, como a Orval e uma das Chimay, mas a maioria é escura (somente 1 ou 2 são claras) e relativamente doce.
Apesar das diferenças, todas tem algo em comum: os monges podem ter feito o voto de celibato, mas com certeza são pais de uma bela familia de cerveja.
Todas são fortes, alta fermentação e recebem uma 2ª ou 3ª fermentação na garrafa, todas são frutadas e possuem uma proporção de açúcar mascavo na fabricação.
Por ser uma das ordens mais restritas, talvez a mais fechada, os trapistas mantiveram a sua tradição de fabricar cerveja.
Algumas vezes a fabricação tinha por objetivo a contrução de mosteiros e consequente manutenção, em outras a geração de empregos locais ou para o início de comunidades em diferentes locais.
Por causa da competição do mercado e do tempo que os monges devem dedicar a oração e aos estudos, eles não podem administrar sozinhos as cervejarias, tendo então auxilio de pessoas da comunidade nas atividades.
Agora, um motivo especial para tomar as cervejas trapistas: uma parte do lucro das vendas é usado diretamente para a caridade.
Esta com certeza é uma boa forma de se fazer caridade!

Quem sou eu

Bruxelas, Belgium
Engenheiro Mecânico, doutorando pela Vrije Universiteit Brussel, apreciador das diferentes cervejas deste país. dúvidas? fpresezn@vub.ac.be